Somos mesquinhos, banais, egóticos, ressentidos. Se não tomamos consciência disso, não conseguimos a transformação. A primeira condição da transformação é a nudez. Ser capaz de contar a sua verdade. Gosto muito da Flannery O´Connor, que é para mim, ao lado de Pasolini, uma mestre espiritual. Ela mostra um mundo que se diria monstruoso. De assassinos em série. De gente capaz de tudo. "Esse mundo somos nós." até que acontece o encontro com a graça. É esse encontro que transforma a nossa vida. Penso que não se pode dividir (a humanidade) entre homens bons e homens maus. Não há rapazes maus - como dizia o Padre Américo (essa figura tutelar de um certo século XX português). Há a experiência do mal, que é comum a todos, que nos atravessa, corrói, domina em tantos momentos.
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José Tolentino Mendonça, entrevista ao Público, 09/12/2012